Dando continuidade as homenagens ao Dia Internacional da Síndrome de Down, hoje vocês conferem o relato carinhoso da Yasmin, irmã do lindo Davi.
Relato de uma irmã Especial
Fui
sorteada para viver uma realidade difícil, a das pessoas com necessidades
especiais. Para ser a irmã que o Davi precisava, eu teria que mudar. Precisava
ser muito dedicada, brincar muito, estimular muito... e comemorar cada
conquista. Hoje, sou a minha melhor versão. Graças a ele. Por quê? Cada caso é
um caso, não quero entrar em detalhes porque com outras pessoas pode ser
diferente. Só sei que pra ser irmã de uma criança especial, é preciso enfrentar
muita coisa. Mas nada, nada mesmo, impede a gente de ser feliz. Quando penso em
ficar triste diante de qualquer dificuldade, me inspiro nele: astral
maravilhoso, sempre sorrindo! Mesmo diante de tanto preconceito e dificuldades.
Dificuldades?
Sim, dificuldades. Uma criança "normal" precisa de uma média de sete
tentativas para aprender algo novo. Já para uma criança com síndrome de down,
esse número pode ser três vezes maior.
Eu era
filha única. De repente, me vi irmã de uma criança que demorou meses pra
conseguir sustentar a cabeça, outros meses para conseguir sentar e dois anos
para andar. E que ainda não fala. Ok, eu sei que tudo tem seu tempo, mas não
podemos negar que existem sim momentos difíceis. Além disso, crianças com
síndrome de down recebem um "rótulo". Todos acham que todas são
iguais, vivem do mesmo modo e fazem as mesmas coisas. E querem saber a verdade?
Eu também achava antes de ter um irmão assim. E hoje eu vejo que estava
completamente errada.
É um
impacto muito, muito, muito grande. Quando o resultado do exame chegou em
nossas mãos, não foi fácil. Desde a barriga sabíamos como o Davi seria e isso
nos dava um medo muito grande. Era algo novo. E todo mundo tem medo do
desconhecido.
Muitas
mães que passam por esse momento entram em depressão. Elas não estão rejeitando
a criança, mas não sabem como lidar com tudo isso. Muitas optam pelo aborto
simplesmente por conta desse medo. Minha mãe, aliás, foi indicada a uma clínica
clandestina. A médica dela da época disse que seria melhor abortar e fez uma
pressão gigantesca dizendo que esse era o caminho que minha mãe deveria seguir.
Por essa
pressão psicológica MUITAS famílias passam (se algum profissional fizer o mesmo
com você, denuncie!). Todo mundo diz que é difícil, que você não saberá lidar
com essa situação, que você não tem preparo pra isso, que seu marido não ficará
ao seu lado...
Foram
tantas coisas que ouvimos!
Mas hoje
eu quero dizer que você é capaz, sim! Que você consegue dar conta, sim! Nós
conseguimos!
Ter uma
criança com síndrome de down não faz de ninguém uma pessoa melhor. Mas a forma
com que você lida com isso, sim. Eu e minha família às vezes esquecemos o que o
Davi tem. Ele é uma criança como qualquer outra. A síndrome de down é só uma
característica genética, uma das características dele. "Ah, mas ele vai
ter dificuldades no desenvolvimento". Sim, ele tem, mas qualquer pessoa
pode ter. Eu tentei aprender a tocar violão por muito tempo e não sei
absolutamente nada. Nunca aprendi. Tenho dificuldade. Ele, com certeza, vai ter
outras, vai ter o tempo dele. Espero que esse mundo entenda que cada um tem o
seu tempo. E que ninguém ache que ele é inferior por causa da síndrome. Que ele
sempre tenha o direito de aprender, de tentar, e também, de errar.
Sou grata
e feliz por ser a irmã do Davi. Não "o Davi que tem síndrome de
down". O Davi que é o Davi. E que pode ser o que ele quiser.
Todas as
deficiências dele não mudam o fato de que ele é uma pessoa inteira. E é isso
que o mundo precisa entender. Eu concordo que ele é mais lento para algumas
coisas, sim. Mas o que importa? O que conta ele tem: uma carga de amor enorme.
Porque o
amor não conta cromossomos!
Leia também o Relato de uma Mãe Especial.
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Dentre os
365 dias do ano, o “21/03” foi inteligentemente escolhido porque a Síndrome de
Down é uma alteração genética no cromossomo “21”, que deve ser formado por um
par, mas no caso das pessoas com a síndrome, aparece com “3” exemplares
(trissomia). A ideia surgiu na Down Syndrome Internacional, na pessoa do
geneticista da Universidade de Genebra, Stylianos E. Antonorakis, e foi
referendada pela Organização das Nações Unidas em seu calendário oficial.
Oficialmente
estabelecida em 2006 e amplamente divulgada, essa data tem por finalidade dar
visibilidade ao tema, reduzindo a origem do preconceito, que é a falta de
informação correta. Em outras palavras, combater o “mito” que teima
em transformar uma diferença num rótulo, numa sociedade cada vez mais sem
tempo, sensibilidade ou paciência para o “diferente”.
Acesse ao
site MOVIMENTO DOWN para mais
informações.
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